Estratégia de corrida - RITMO
28 de julho de 2017 Estratégia de corrida - RITMO

Nesse post, vamos falar sobre estratégia de corrida, mas de uma forma diferente da que o leitor está acostumado! Estamos trazendo um assunto novo, que faz a relação do emocional com o fisiológico e a implicação no desempenho físico, e como isso pode levar o sujeito ao sucesso ou ao fracasso nos seus objetivos. Lembra aquela metáfora da lebre e a tartaruga? Não? Dê uma olhada aqui e faça a relação com o nosso texto.

            Tudo em nossas vidas possui um ritmo! Às vezes, se colocamos um ritmo mais forte, ou mais fraco não conseguimos alcançar o objetivo traçado. É como preparar uma refeição, para que se consiga o ponto ideal, os ingredientes, o tempero, a temperatura, são fatores primordiais para chegar ao sabor desejado. Para um trabalhador chegar no seu trabalho, deve acordar em um determinado horário, preparar seu café, se arrumar, ir ao ponto de ônibus, seguir o trajeto e chegar dentro do seu horário, tudo isso dentro de um planejamento e um ritmo que ele traçou. O que uma refeição e um deslocamento tem em comum com uma estratégia de corrida? Muita coisa! Em ambos os casos necessitamos de um planejamento, um ritmo a seguir para alcançar o objetivo final; através de vivências anteriores, conseguimos traçar a melhor estratégia para cada processo. Essa vivência está repleta de emoções positivas, negativas, recompensas: o elogio por um prato de sabor agradável, a tristeza de chegar atrasado a um compromisso de emprego, e a recompensa de ser campeão por um desempenho ideal em uma prova de longa distância.

 

            A maioria dos esportes definem o sucesso ou fracasso baseado no RITMO DE PROVA, “pacing”. Ritmo é o processo de gerir o gasto energético para não ter limitação do desempenho antes do final da prova. Esse gasto energético é regulado a todo momento com objetivo de garantir energia até a linha de chegada no menor tempo possível, sem o corpo ter uma falha biológica catastrófica. Essa regulagem acontece através de processos INSCONCIENTES (FISIOLÓGICOS) e CONSCIENTES (EMOCIONAIS). O treinamento deve garantir que esses dois processos interajam entre si, garantindo a regulação da intensidade ótima do exercício até o final da prova.

 

            Todo mundo conhece aquele atleta que começa muito bem uma prova, mas nunca chega ao êxito, sempre tem uma quebra de ritmo ao longo do percurso, e tem aquele atleta que começa com ritmo mais fraco e vai crescendo ao longo da prova, obtendo êxito nos seus objetivos. O que difere esses dois atletas é a forma de interpretar as respostas aferentes do seu corpo, e suas vivências anteriores. Como isso acontece? Esse controle acontece através da INTEROCEPÇÃO (um assunto muito novo que está sendo estudado no Brasil). A interocepção representa as respostas dos sinais corporais aferentes que são levados ao cérebro para serem interpretados, gerando alguma resposta a esse estímulo.

 

Ou seja, o exercício provoca um estímulo no indivíduo (perturbação na homeostase), esse estímulo é levado até o cérebro para ser interpretado, essa interpretação gera uma resposta para que o indivíduo possa tomar uma decisão, baseada nos processos inconscientes (fisiológicos) e conscientes (emocionais).


            Então fazendo a relação da interocepção com o exercício físico podemos dizer que, em um início de prova, o atleta que faz uma saída forte deve estar preparado fisicamente e psicologicamente para aguentar a dor, a fadiga, pois deve compreender que o seu cansaço só irá aumentar ao longo do percurso. Essa saída em alta potência faz uma perturbação na homeostase fisiológica (processo inconsciente), levando ao surgimento da fadiga (processo consciente). Nesse momento, as experiências anteriores, a memorização, são fundamentais para que o corpo faça as adaptações e as correções da intensidade do exercício para que não haja uma quebra no ritmo, nem uma falha catastrófica. Por isso a importância da participação de competições, para que o atleta possa conhecer melhor o seu emocional e seu fisiológico, interpretando assim da melhor forma as respostas do seu corpo. Todo esse processo é influenciado pela SENSIBILIDADE INTEROCEPTIVA (SI), a SI é a percepção das respostas fisiológicas do corpo, e a partir dessas respostas o sujeito pode tomar a decisão mais racional, alguns estudos mostram que sujeitos que possuem uma maior SI, possuem uma melhor tomada de decisão.

 

            Atletas experientes tem uma maior vantagem nessa regulação estratégica (regular o RITMO) quando comparados com atletas iniciantes, devido ao processo de memorização de experiências anteriores. São capazes de desenvolver uma saída estável e manter durante uma longa sessão. Não se sabe exatamente como o atleta desenvolve este modelo de processo. Entende-se que a experiência e o estado fisiológico são muito importantes para o desenvolvimento dessa saída.

 

            Não se sabe com exatidão quais os centros responsáveis e como é feita essa regulação de intensidade. O conjunto das experiências anteriores (emoções/consciente) é um dos fatores que fazem essa regulação.

 

Existem três modelos de regulação da intensidade: CAIXA PRETA, CGM, ALGORITMO. Em resumo:

 

  • O MODELO CAIXA PRETA armazena experiências anteriores e faz a regulação do ritmo projetado;
  • No MODELO GOVERNADOR CENTRAL (CGM, do inglês central governor model), a atividade física é regulada por um regulador no cérebro.
  • No MODELO ALGORITMO ocorre uma interpretação dos conhecimentos de condições ambientais e metabólicas definindo uma estratégia para essa sessão de exercícios.

 

Logo, com o objetivo de melhorar o seu desempenho competitivo, atletas devem competir com uma intensidade ideal, em partes, pela natureza da tarefa (tipo de competição) e suas capacidades fisiológicas e psicológicas. Essas duas capacidades juntas podem ser chamadas de estimulação estratégica; são primordiais em uma competição, pois definem o sucesso ou fracasso do atleta. O atleta deve controlar o seu gasto energético de modo que consiga manter um desempenho ideal do início ao fim. É importante evitar uma saída de prova muito forte, que não seja o seu habitual, a fim de prevenir uma quebra precoce no desempenho. Dentro de uma competição, a tendência é o aumento da fadiga e o atleta deve estar consciente fisicamente e psicologicamente que quanto mais forte o seu início de prova, maiores as chances de “quebrar” na competição. Outro fator importante são as experiências anteriores, as vivências para que as respostas ao exercício possam ser processadas da forma mais racional e o ritmo regulado de acordo com suas respostas afetivas, conscientes e inconscientes. Atletas inexperientes são incapazes de andar efetivamente bem quando comparados com atletas bem treinados e experientes, devido suas experiências anteriores. Os atletas experientes e com alta (SI) tem uma melhor interpretação dos sinais corporais, com isso realizam a regulação da intensidade do exercício, de modo que a suas capacidades de produção de energia não se esgotam antes da linha de chegada e o indivíduo consiga seu objetivo.

 

AUTOR:

EVERTON BORGES
Licenciatura em Educação Física (UFRN)
Bacharelando em Educação Física (UFRN)

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:

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